sábado, 23 de abril de 2011

AMOR/ ERDA Interativa

Hoje fui ao Museu da Língua Portuguesa.
O banheiro era tão pouco artístico e criativo como o dos outros museus que visitei por aqui (apesar do banheiro do MAC ter um granito preto tão limpo que possibilita ver a bunda de quem está usando o sanitário lateralmente: no meu caso, achei a experiência de poder me ver fazendo xixi naquela posição tão pouco cômoda, quase um S humano, reveladora e interativa.
Não entendo o porquê desta delimitação de espaços e itinerários em museus. Esta coisa de tornar o espaço artístico enciclopédico me deixa um pouco entediada.
Apesar das minhas críticas, este museu (da lingua portuguesa) é conhecido por ser interativo, moderno, etc.
Sabe a propaganda da Sky? Não é TV por assinatura é Sky? Ali seria quase: Não é um museu é Sky e talvez seja TV.
Todavia, a interatividade de sons, vídeos, palavras e da Regina Casé me tocou – mas não da forma diretamente proposta.
Após ver um vídeo sobre a língua portuguesa , fui a um lugar onde se recitavam poemas de forma pirotécnica, chamado Praça da Língua. Várias poesias e imagens. Poesias ganham formas e vozes televisivas. Apesar de ser restritiva com esta forma midiática de “arte”, talvez seja uma forma de divulgação legítima, pois atinge um público específico (os baixinhos da Xuxa, por exemplo).
Entretanto, tudo que disse até agora foi para contar do poema do Carlos Drummond de Andrade que lá foi recitado que me fez ir para os banheiros que pesquiso- num tipo de “ritornelo fisiológico- existencial”:

O SEU SANTO NOME


Carlos Drummond de Andrade



Não facilite com a palavra amor.

Não a jogue no espaço, bolha de sabão.

Não se inebrie com o seu engalanado som.

Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro).

Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra

que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.

Não a pronuncie.



Tudo isso por conta de uma palavra: Amor.
Pois é, eu encontro muito amor nas portas de banheiro em São Paulo.
Pode-se dizer que o amor que tanto se camufla aqui está lá.
De várias formas: declarações, palavras, na sua antítese – o ódio, nos corações desenhados, nos poemas encontrados.


Sinto muito Drummond, mas o amor está nos banheiros, detrás das portas, nos encontros furtivos, nos choros ou gemidos nas cabines. O amor é mais que pronunciado, ele é escrito e lá ganha vida própria: interage e ama.
Falando nisto, lembrei de outro poema, só que do Leminski:

MERDA E OURO

Paulo Leminski
Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare à bosta da pessoa amada.

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